sábado, 13 de outubro de 2012

Web- PROJETO MUTANTES parte 1


-Vou realizar seu sonho Lindah – falou Collin, o garoto de rosto claro e cabelos pretos sedosos, ele estava com um pequeno corte na bochecha, era recente.
-Não está em nosso alcance – respondeu a garota de olhos azuis arregalados, cara sardenta e voz doce. Sua pele branca reluzia  ao sol, na sua perna cortes aparente e em um dos pés um roxo preocupante. Uma lagrima estava no canto do seu rosto, escorrendo pela bochecha.
-Vou conseguir Lindah, por você – ele tocou sua mão – Eu prometo.
Um pequeno sorriso surgiu no canto do rosto de Lindah, era bem raro ela sorrir, mais de vez em quando o fazia.
-Acha que consegue andar? – Collin se levantou e ajudou a garota se levantar também.
-Sim, só preciso me acostumar com isso – apesar de disfarçar, a dor era intensa, Lindah tentava não tocar o chão com o pé esquerdo, mais era quase impossível não sentir dor, seu pé estava todo roxo, e a marca da costura mal feita era bem notável. Uma amostra de carne havia sido tirada para novos exames.
-Ei – falou o garoto a guiando pelo corredor – Está perto.
-O que? – a voz de Lindah era sofrida e doce.
-Seu aniversario, dezesseis anos – ele sorriu, como se o aniversario fosse dele. Collin sempre estava feliz e sorria ao falar ou mesmo de pensar de Lindah.
-Esquece Collin, não há o que comemorar.
-Você está aqui, e comemoro a cada dia – ele parou ao ver que Lindah não conseguia dar o próximo passo -  Da maneira que vivemos, não podemos nos dar ao luxo de dizer apenas mais um ano. Não são muitos para a maioria de nós. Sabe disso.
-Não sei se quero mais Collin – ela baixou o olhar, como faz uma criança quando fez algo errado.
-O que disse? – a voz do garoto virou uma voz ríspida e desesperada – Lindah! – ele sacodiu seu braço.
-Eu não consigo muito mais – ela chorou – Não sou tão forte.
Collin a soltou, a fazendo se apoiar no pé machucado, Lindah fechou os olhos de dor. Não só pelo pé mais por tudo que vivia.
-Não vai precisar aguentar por muito mais tempo – ele esbravejou e saiu andando.
-Collin – gritou Lindah a medida que seus pulmões franzinos conseguiam – Collin!
Mais não obteve resposta. Collin estava nervoso de mais, tantas torturas, tantos exames, tantas buscas para espalhar ou apenas eliminar esse DNA DEFEITUOSO, essas vidas de prisioneiros.
Eles morrem um a um dentro do grande forte de aço no meio da floresta, uma repartição secreta do governo. Estudos sobre a mutação de DNA, lugar onde os estudados ou cobaias, como eram chamados, vivem e morrem para a ciência. Eles formaram  100 ao todo, do começo dos estudos até hoje em dia, mais a cada dia um fica mais fraco, mais testes fatais a vida são realizados. Menos de trinta mutantes sobrevivem no atual centro.
Pessoas com habilidades especiais, é o que consta nos papeis, mais a maneira que eles são tratados é pior do que se trataria um assassino condenado a pena de morte. Mais isso está perto de terminar.


Domingo, 22 de Março as 08:00.
A explosão podia ser vista de longe, quem sabe as fazendas mais próximas não suspeitassem de algo agora. A fumaça se espalhou pelo céu. A correria dentro da base de aço era a garantia de uma vida melhor.
-Bloqueiem a saídas – disse um dos guardas fardados.
O bando da segurança corria por todos os lados, suas armas com sedativos e outras com balas de verdade. Os dois times corriam por todo o terreno acinzentado. Mais a fumaça ajudava os mais espertos.
Joe jogou um pedaço do muro, que havia caído na explosão, em cima dos soldados treinados. Outros vinham por trás tentando cerca-lo.
-Venham! Venham me pegar! – gritava Joe, seus cabelos loiros, eles estavam sujos de fuligem e seus músculos de pó preto da fumaça. Agora ele arremessou um bloco de ferro enorme que ficava no pátio, em cima dos “protetores da lei”.
O muro de aço com barragens de ferro agora estava com um enorme rombo, o sorriso que se abriu no rosto de Joe era inexplicável, finalmente podia sair daquele lugar, finalmente teria sua liberdade. Ele correu no meio da fumaça, estava bem perto do muro, já podia sentir o cheiro da grama, e o verde da floresta já podia ser visto no lugar do cinza da fortaleza. Mais havia algo que precisava fazer antes de sair.
-Collin – gritou Joe em meio a fumaça – Collin!
Joe corria procurando  o amigo, em meio aquela confusão, será que ele ainda estaria vivo? Ele não se importava, não sairia dali sem levar Collin com ele, sua vida já era difícil o suficiente e não viveria sem seu amigo.
-Collin! – ele jogou seus cabelos para trás limpando o suor da testa – Caramba cara, aparece logo!
Ele voltou pela fumaça até esbarrar em alguém, era Collin, ele mexeu no ombro, estava ferido, e sua cara era de dor. Estava todo sujo de fuligem, e com o braço ensanguentado.
-Porque demorou? – Joe o ajudou a correr pela fumaça. Eles atravessaram o buraco do muro.
-Não posso ainda Joe – ele tentou voltar, mais Joe o segurava e ele era superforte.
-Vamos todos nos encontrar lá fora, quando todos fugirem, vai dar tudo certo – ele puxou Collin correndo pela mata adentro – Em quanto isso temos de ficar vivos.
A poeira não baixava do lado de dentro do forte, o pátio continuava um campo de batalha, infelizmente os únicos que conseguiram fugir por enquanto eram Joe e Collin. Uma bomba foi atirada, um sinalizador, algo que ateou de chamas as paredes do centro de pesquisa, ainda havia muita gente lá dentro.
-Ebby! – gritou Hector – Ebby, aparece Ebby.
                -Vamos embora Hector.
                A moça de pele rosada puxou o garoto negro para fora da sala de espera do forte, eles estavam pouco machucados, mais a chama se espalhava rápido, logo todos morreriam queimados.
                -Por favor me deixe achar a Ebby antes – ele resistiu com seus lindos olhos cor de mel, todos cheios de lagrimas.
                -Não vou te deixar aqui para morrer garoto – ela o puxou com força – Ebby não tem como escapar mais, mais ainda há uma chance para você, para nós.
                Os guardas invadiram a sala antes que eles pudessem correr. Eles se entreolharam o fim agora era inevitável.
                -Vá Hector, Vá! – gritou
                Então a pele do garoto se desfez, assim como sua imagem. Os guardas tentaram agarrar o ar. Ele estava invisível, e correu para fora da sala, para alcançar a abertura no muro e ganhar o mundo a fora.
                Ele não conseguia conter as lagrimas nem mesmo enquanto estava invisível, ele havia perdido sua irmã Ebby, sua irmã mais nova, que ele ajudava a manter viva desde o dia que foi levado para o forte. E a pobre moça de pele rosada que roubava comida para ele comer sempre que podia, também estava capturada, e quem sabe morta. Agora ele estava sozinho.
                -Lindah – a garota abriu a porta com força, usando o pé. Um policial a cercou por trás, mas Jane estava acostumada com brigas, apesar da aparência madura a gentil. Ela o chutou o fazendo cair.
Jane corria pelo forte, havia muitos corredores, salas, setores, pátios. O muro aberto não estava muito longe, mais Jane preferia morrer a deixar Lindah para trás.
-Lindah – ela abriu outra sala – Lindha apareça, vamos sair daqui! Lindah – ela berrou até sua voz falhar.
-Me ajude – uma pequena mão de pele escura se ergueu em meio as madeiras caídas, o fogo estava se espalhando, Jane precisava correr, mais ela não conseguiria se não ajudasse a garotinha jogada em meio as blocos de madeiras no canto da sala.
-Meu deus – Jane apoiou a cabeça da menina no colo – Está bem com você querida? – era obvio que não, mas Jane se recusava a deixar.
-Não – ela tossiu, sangue saiu de sua boca – Hector.
-Como? – ela limpou o sangue com a ponta da manga da blusa.
-Meu irmão – ela tossiu mais sangue, estava partindo.
-Não fale mais nada, vou lhe curar.
-Não – ela falou – Não tem mais jeito.
Jane possuía o dom da cura, mas a menina já estava quase morta, ela não podia fazer nada para ajuda-la, e isso fazia de Jane uma completa inútil.
-Eu vou tentar – Jane começou a chorar sobre o corpo da garota, ela queria poder ajudar – Fique viva.
-Prometa algo para mim – ela deixou uma lagrima rolar. Jane sacudiu a cabeça rapidamente, ela faria qualquer coisa – Cuide do Hector, eu devo isso a ele – sua pequena mão repousou sobre a de Jane – Boa sor...
Ela não conseguiu terminar de falar, Jane desabou em lagrimas, ela não suportou a ideia de deixar aquele corpinho ali, a menina não devia ter nem dez anos, mais ela precisava sair, achar Lindah e viver.
Jane desceu de andar, estava com mais chamas do que o andar de cima. Jane iria morre. Era a única coisa que ela mesma esperava.
Ela entrou na área de internação, em uma das salas, um corpo aberto, e objetos de operação espalhados. Já estava morto, o homem. Pobre homem, abandonado em meio a confusão para morrer na mesa de cirurgia, Jane o conhecia, ele tinha a habilidade de atravessar as pessoas, suas moléculas eram instáveis.
-Droga – gritou Jane – Droga! Jane sua estupida – gritou com sigo mesma.
Ela correu em direção a ala leste, as chamas tomaram essa parte quase toda, mais era o único lugar que Lindah poderia estar, no seu quarto, se é que podia chamar assim. Uma cela cercada de grades e cadeados, uma sala branca acolchoada, a prova de Lindha, ele jamais sairia de lá sozinha.
Jane chegou a ala Leste, desviou do fogo e fez uma pequena queimadura no braço, mais seu poder de cura a ajudava nessas situações. Ela avistou o quarto, correu para frete dele, felizmente o corredor não pegava fogo. Ela correu para a frente da sala, da pequena janelinha de vidro avistou  Lindah sentada no meio do quarto. Lindah ao ver o rosto de Jane pulou e correu em direção a janela, ela esmurrou a janela.
-Por deus Lindah, achei que não te acharia.
-Me tire daqui Jane, me tire! – gritou Lindah já rouca.
Jane pegou uma pedra de uma das paredes derrubadas e quebrou o fecho, e depois outro e esmurrou a porta. Ela conseguiu e com o baque foi arremessada para dentro da sala, ela abrasou Lindah.
As duas começaram a chorar, ali abraçadas no chão.
-Achei que ninguém viria, que ficaria aqui e morreria queimada, como no inferno.
-Não diga isso – ela apertou a garota ainda mais – Estou aqui, já passou.
Ela ajudou Lindha se levantar.
-Vamos.
                -E os guardas? – Elas começaram a correr pelo o andar, sempre desviando do fogo e chorando pelos corpos que viam espalhados.
                -Mortos a maioria, e o resto no pátio, lá está a verdadeira selva. Vamos pela fumaça, tem um buraco no muro.
                -Collin, cadê ele? – Lindah  olhou por todos os lados assim que chegaram  no pátio, elas tentavam passar desapercebidas, eram ambas fracas de mais para poder enfrentar os guardas armados.
                -Eu não sei. Mais ele é jovem e forte, deve estar bem. Melhor do que a gente, pode ter certeza.
                -Foi ele – falou Lindah correndo atrás de Jane pela fumaça.
                -Como assim? – perguntou Jane ofegante, quase tropeçando em uma pedra.
                -Ele que fez isso, o  buraco, o fogo a fuga. Ele disse que faria – revelou Lindah segurando a mão de Jane com medo de se perder. Elas corriam desesperadas pelo pátio.
                -Não sei como ele fez isso – começou Jane- Mais foi a melhor coisa que já aconteceu com...
                Antes de Jane poder terminar, ela foi agarrada pela cintura e jogada no chão por um guarda. Lindha deu um grito.
                -Jane! – ela correu atrás de sua salvadora.
                -Não Lindah – gritou Jane – Sai daqui.
                -Não! – gritou Lindah.
                Um guarda corria na direção delas, em breve Lindah também seria rendida.
                -Lindah – gritou Jane brava – Não arrisquei minha vida por nada, eles não vão me matar, tenho valor, agora vá. ANTES QUE EU ME ARREPENDA DE TER SE SALVO!
                Se Lindah ficasse seria capturada, e não faria diferença para a vida de Jane. Então ela correu, atravessou o rombo no muro, e correu pela mata. Bateu em varias arvores porque estava tonta devido a fumaça, seu rosto estava molhado, queria Jane ali, queria ver Collin, será que seu amigo Hector estaria bem.
                Um pequeno riacho, a agua devia bater no máximo no meio da cintura, Lindah não sabia nadar, mais não se afogaria com aquela quantidade de agua, ela se atirou no riacho para atravessar a floresta, quanto mais longe mais salvo estaria.
                No meio da agua, bateu em algo, em alguém. Lindah deu um grito, uma pessoa, a primeira vista achou que estava morta, mais não, estava viva, ou melhor vivo.
                -Cuidado garota – ele a empurrou e saiu da agua, espremia as roupas. Ele estava calmo.
               Ele seguiu pela floresta, Stephan era seu nome. Normalmente ele podia voar, era algo que o orgulhava, o que lhe tornava diferente, diferente o suficiente para ser trancafiado no forte. Mais a poucos meses suas asas haviam sido arrancadas, apenas uma enorme cicatriz em suas costas era o que restava, mais ele ainda era forte e ágil  o suficiente para fugir daquele lugar. Ele agiu indiferente com a presença de Lindah, que a propósito não era uma conhecida dele.
                Stephan apenas seguiu pela floresta a dentro, a menina que a pouco tempo esbarrara no rio com ele não  era rápida o suficiente para o seguir. Passar a noite em uma arvore, era sua escolha.
               
                Terça, 24 de março.
Stephan já estava cansado de andar pela mata, imaginava como sair daquele ninho de cobras e animais selvagens, porque aquela base tinha que ser tão bem escondida.
Já fazia umas horas que ele estava com uma sensação se estar sendo perseguido, ele precisava acabar com essa incerteza. No meio do caminho parou, e ao perceber um movimento anunciou.
-Sei que está aí – falou com sua voz ríspida.
Um garoto magro de pele escura surgiu de trás de uma arvore, seus lindos olhos tristes piscaram e ele abriu um pequeno sorriso, estava sem graça com a situação.
                -Eu não sei quem você é e não me interessa – ele o avisou. Stephan não era sociável, e não ligava para alguém além dele, ainda mais para um completo estranho – Agora, cai fora moleque.
                Mais o garoto o ignorou e continuo o seguindo.
                -Como se chama?
                -Não interessa – ele apenas continuou analisando uns galhos caídos, precisava se localizar, ou pelo menos juntar madeira para uma fogueira, ou morreria de frio durante a noite.
                -Claro que sim –ele falou abaixando e pegando galhos também .
                -Stephan, agora me deixe em paz.
                -Me chamo Hector.
                -Quem se importa – ironizou o rapaz se levantando e seguindo.
                Hector persistiu e foi atrás dele.
                -Como fugiu? Eu fui pelo muro, depois corri pela mata, peguei um atalho – o garoto encarava o rapaz alto como um ídolo – E você?
                -Fui nadando – Stephan balançou a cabeça se perguntando porque estava respondendo aquele pirralho – Porque se importa, vai morrer daqui a pouco mesmo.
                -Eu duvido aposto que sou mais forte que você – se gabou o moleque.
                -É?– Stephan agarrou Hector pela gola e o levantou até os pés dele deixarem o chão – E porque acha isso?
                -Sou o paciente número 013 – ele mostrou a pulseira de metal no braço.
                Stephan o colocou de volta no chão.
                -E você é 98. Chegou ano passado junto com aquele rapaz, o numero 99 – eles continuaram andando – Não sofreu o suficiente por aqui. Quem era o rapaz que chegou com você?
                -Não interessa.
                -Era seu irmão? Era parecido com você, principalmente os cabelos e olhos negros brilhantes.
                -Está bom, ele era meu irmão – confessou Stephan – Mais o que te importa? Porque está atrás de mim?

                -Porque somos irmãos – ele falou sorrindo.
                -O que? Você está maluco? – Stephan chegou a rir com o comentário.
                -Somos todos irmãos, desde o numero 1 ao numero 100. Temos que nos unir, só assim sobrevivemos.
                -Não seja ridículo.

                Já era noite, Hector não havia desistido de acompanhar Stephan. Eles ascenderam um fogueira pela noite, já não estava com tanto frio. Hector revelou uma porção de frutas, eles espetaram algumas em galhos e assaram para comer.
                -Qual é sua habilidade especial? – perguntou Hector, devorando uma fruta que ele nem sabia ao menos o nome.
                -Habilidade especial? – Stephan zombou – Que jeito mais meigo de chamar uma maldição.
                -Não é uma maldição. Minha mãe falou que é um milagre, que somos anjos do senhor, mais as pessoas não nos compreende. E por isso nos atacam.
                -Ela não sabe o que diz – ele devorou uma banana.
                -Ela sabe sim, eu e minha irmã nascemos com habilidades especiais. Eu fico invisível – assim que falou ele desapareceu diante dos olhos de Stephan que arregalou os olhos, como se não pudesse acreditar e voltou a ficar visível alguns segundos depois.
                -E sua irmã – perguntou se interessando.
                -Ela respira de baixo da agua, sinto a fala dela.
                -E onde ela está?
                -No forte, provavelmente morta, ou capturada que é pior ainda. Eu devia cuidar dela.
                -Não se sinta culpado. Pessoas como nós acabam mortos ou aprisionados mesmo.
                -Mas não devia ser assim – ele se lamentou – E você o que faz.
                -Fazia – falou – Eles acabaram com o meu problema.
                -Como assim?
                Stphan se virou, e tirou a blusa. Uau! Foi a única coisa que Hector pensou, uma enorme marca de costura percorrendo as costas inteiras.
                -Bárbaros – falou o pequeno garoto – Não se sente triste, suas asas...
                -Me fizeram um favor – falou – Agora sou um humano, e não uma aberração.
                -É isso o que pensa de mim? – perguntou o garoto com olhos tristes – É isso que pensa de todo mundo que foi trancado naquele maldito forte?
                -Deus errou na hora de nos criar.
                -Deus não erra – gritou Hector – Devia estar triste, isso o torna diferente dos bárbaros, o torna especial. E com asas, um anjo.
                -Fico feliz de estar vivo, meu irmão não teve a mesma sorte – revelou.
                -Só porque não tem mais elas não significa que é um deles.
                -E porque não? – perguntou  Stephan zombando do pensamento do garoto.
                -Porque está aqui – Hector mostrou o pulso, que significava sangue, e bateu no peito, bem acima do seu coração.
                Eles ouviram um barulho, um barulho de passo. Hector pula em cima de Stephan deixando os dois invisíveis. E em um segundo um guarda apareceu, ele olhou para os lados. Os dois correram para longe, ou pelo menos Stephan correu, Hector estava montado em suas costas agarrado em seu pescoço, assim os dois estavam seguros. Correram para o mais longe que puderam. E só pararam quando Stephan não conseguia mais andar.
                -Estamos longe o suficiente – falou Hector pulando das costas de Stephan.
                Eles estavam ofegantes, fazia quase uma hora que Stephan corria, e que pernas rápidas.
                -Tem certeza que resistência não é sua habilidade – brincou Hector.
                Eles se jogaram no meio das folhas, estavam exaustos.
                -Obrigada – falou Stephan – Essa foi por pouco.
                -Sim – Hector se virou e encarou Stephan – Eu disse que precisávamos ficar juntos, não falei.
                -Talvez você esteja um pouco certo – ele riu.
                -Estou sim.
                -Vou acender a fogueira – Falou Stepah recolhendo uns galhos no chão – De novo.
                -Sabe se algum de seus amigos conseguiu escapar? – perguntou Hector se aconchegando a fogueira que começava a queimar finalmente.
                -Amigos? – Stephan riu – Não tenho amigos.
                -Sério?  - Hector riu – Apesar da aparência rebelde e péssimo humor, você é um cara legal, pelo menos um amigo devia ter.
                -Não tentei fazer amigos, só me afastei, estava tentando apenas esperar passar. Como um pesadelo – ele deu um sorriso dolorido – E você.
                -Tenho sim, mais estou lá a nove anos. Antes eles permitiam ligações, eu falava com minha mãe era bem melhor.
                -Nossa,  nove anos é muito tempo. Por isso é o 013, chegou lá a muito tempo.
                Hector concordou com a cabeça.
                -Quem são seus amigos? – perguntou Stephan.
                -Não são muitos, e são mulheres. Sou o único menino com menos de 17 anos lá.
                -Tem sorte, assim pode escolher com quem vai casar quando crescer  - brincou Stephan.
                -Tem a minha irmã, Ebby – falou ele triste – Ela tem 10 anos de idade, tem a Alana, uma moça alta de cabelos curtos que sempre dividia a refeição comigo. Crianças só recebem meia refeição, e minha irmã tem muita fome, então eu sempre dividia a minha com ela, a moça sempre roubava um pouco para eu poder comer mais, sou muito grato a ela.
                -Sabe se ela escapou?

                -Não, ela me ajudou a sair e ficou para trás – ele respirou fundo, se sentindo culpado pelo o que houve – Tem um cara, ele não é meu amigo, nem sei se ele sabe quem eu sou. Mais ele é de mais, ele é superforte. Dizem que o muro foi reforçado, depois que ele quase fugiu a uns anos atrás.
                -Esse eu sei quem é, ele sempre fica correndo pelo pátio na hora do banho de sol – Stephan riu – Parece meio perturbado.
                -Eu acho ele demais – Hector se encheu de orgulho – E tem a Jane, ela é nova e muito legal, ela está sempre calma, e tem dia que ela lê em voz alta em uma sala do lado de dentro. Eles permitem isso, acalma muita gente.
                Nenhum guarda, segurança ou cientista impediria ela. Jane ainda não era uma ameaça, e toda vez que ela lia e conversava com as pessoas as enchiam de paz.
                -Jane? O que ela faz – Stephan se acomodou no meio da folhagem assim como Hector, os dois estavam deitados de barriga para cima observando o céu.
                -Ela cura as pessoas. Quando Ebby não se recuperou de uma operação ela a curou, devo minha vida a ela.
                -Você acha que... que ela poderia curar o meu machucado, essa cirurgia mal feita.
                -Acho que sim, Jane é muito gentil e te ajudaria sem pedir.
                -Quem mais conhece.
                -Mais ninguém – suspirou Hector – Espera, tem a Lindah.
                -E quem é ela?
                -Lindah é uma garota, tirando minha irmã ela é a mais nova, hoje é o aniversario dela – falou Hector rindo – Parabéns Lindah, onde quer que você esteja.
                -E o que ela faz?

                -Lindah é o grande motivo, a pandora da base – falou Hector ligando as estrelas do céu.
                -Como assim?
                -Ela é a paciente numero 001. A primeira de todo e o motivo da base.
                -E o que ela faz? – perguntou Stephan de novo.
                -Eu não sei bem, ninguém sabe ao certo. Ela fica lá naquele quarto branco, sentada no meio dele sem piscar, sem falar, só dormindo. E quando sai não parece que esta lá, é como se estivesse ligada em outra dimensão. Quando você conversa com Lindah você sente como se pertencesse essa outra realidade, é muito misterioso – Hector encarou o novo amigo – Tenho pena de Lindha.
                -E porque?
                -Você sabe quem é o Governador? Não sei se ainda é ele,  não temos acesso a mundo lá de fora e como você entrou faz pouco tempo.
                -Sim, sei, o que tem ele?
               
                -Ele é o pai dela, quando ela nasceu ele mandou construir a base a atrancou lá. Um ano depois fundou o projeto de pesquisa de mutação do DNA, e assim começou tudo. Dizem que o poder dela é incrível, ela entra no fundo da sua mente, mexe na sua alma e faz o que quiser com você, pode te torturar, implantar informações na sua mente, saber o que você pensa, te atormentar, apagar sua mente, te fazer mais inteligente ou falar diretamente no seu coração.
                -Isso não é legal é afrontador – falou Stephan espantado.
                -Mais ela não faz nada disso, ia gostar dela se a conhecesse. Poderiam ser amigos de cicatriz – brincou Hector – Depois de Lindah você é a pessoa mais remendada que eu já conheci.
                -Finalmente alguém com algo em comum – ele riu – Nossa isso é horrível, não devia ter dito isso.
                -Não faz mal, é a verdade não é – falou               Hector.
                -É melhor dormirmos, e breve estaremos fora da floresta, já que paramos de andar em círculos – riu Stephan.
                -Como é lá fora?
                -Não precisa que eu lhe diga, amanha você vai ver – ele sorriu. 
                Era a primeira vez que Hector ia ter uma imagem do mundo lá fora, afinal havia sido trancado lá no forte a muito tempo e não se lembrava de nada.
                O sol incomodava os olhos de Hector, ele acordou e olhou para o lado Stephan não estava mais lá.
                -Stephan? – ele perguntou andando ao redor de onde havia dormido.
E em um instante uma mão repousou em seu ombro, ele iria gritar, mais viu que era o seu novo amigo, e respirou fundo.
                -Quase me matou de susto cara – falou Hector.
                -Calma, só estava olhando uma coisa.
                -O que?
                -Venha ver.
                Eles andaram pelas arvores, e em cinco minutos estava lá. Uma estrada e um posto de gasolina.
                -Meu deus – pulou Hector de alegria – Não acredito, não acredito! – Ele pulou e abraçou Stephan.
                -Quer ir lá ver?
                -Claro.
                Eles atravessaram a estrada correndo. Hector entrou no barzinho do posto de gasolina correndo, ficou doido quando viu a comida e a música e pessoas normais. Ele deixou uma lagrima rolar.
                -Ei garotos, venham aqui – chamou uma garçonete que ficou com pena dos dois desajustados com roupas estilo hospital.
                -Oi – falou Hector empolgado.
                -De onde são?
                -Trabalhávamos em um laboratório, houve um acidente e não temos para onde ir – mentiu Stephan.
                A garçonete olhou para os dois lados.
                -Não posso ajudar em relação a isso, mais posso dar a vocês  o que comer por enquanto, e umas roubas, temos uma caixa de doações.
                -Isso seria maravilhoso – falou Hector.
                Eles comeram o prato de bacon com ovos e arroz correndo, bebiam o suco mais rápido do que podiam respirar.
                Vestiram as roupas, estavam largas, mas bem melhor do que aquelas blusas e calças cor azul, assim como roupas de hospital. Mais as pulseiras, essas eram difíceis de tirar.
                -Vamos ficar lá fora, conseguir uma carona, ir para a cidade, tentar arrumar um bico e sobreviver – suspirou Stephan.
                -Apesar das dificuldades que vamos ter, e não parecer a melhor coisa do mundo – começou Hector – Vai ser a melhor coisa da minha vida.
                -Vamos lá.
                Eles sentaram na estrada esperando uma carona  rumo a cidade.



Terça, 24 de Março as 10:00.

                -Acorda Collin, acorda, já chega de dormir bela adormecida.
                Collin abriu o olho, seu corpo inteiro doía como se tivesse levado uma surra. Ele havia inalado muita fumaça na fuga, ele e Joe andaram por um dia inteiro, estavam exaustos e desmaiados na beira da estrada.
                -Onde estamos Joe?– perguntou o garoto se sentando.
                -Bem vindo ao circo Estrelato – falou ele como um apresentador de show de TV.
                -Circo? – perguntou Collin assustado.
                -Quando você desmaiou eu te carreguei por um tempo, mais mesmo o fortão aqui – brincou Joe – Precisa comer, o pessoal do circo parou para abastecer em um posto e estávamos na próxima virada da estrada. Eles nos pegaram, e estamos aqui.
                -É você resumiu bem rápido – riu Collin, ele se ajustou na cama de palha e olhou sua volta, a grande lona, instalações com animais e pessoas com roupas engraçadas andando para lá e para cá. Era algo que ele nunca tinha visto, mais algo surgiu em sua cabeça que fez ele perder o sorriso – Joe, Joe.
                -O que foi? – perguntou Joe enquanto tirava a poeira de suas roupas.
                -Cade?
                Joe respirou fundo.
                -Ela não está aqui Collin, acorda. Ela pode estar em qualquer lugar e até...
                -Nem pense em dizer isso – o ameaçou.
                Collin se levantou rápido, sacodiu as roupas tirando o feno  e a poeira das roupas, sacodiu a cabeça para se manter acordado.
                -Vou procura-la.
                -Collin, não vai a lugar algum. Estamos seguros aqui.
                -Estamos livres e fim – protestou o garoto mais novo.
                -Collin para e pensa, acha que só porque saímos de lá está tudo bem? Agora vai começar tudo, a guerra a caçada. Agora temos que nos proteger e esconder. Ou acha que eles vão deixar para lá, pessoas como nós? Por isso estávamos lá Collin, é lá que eles nos querem, então não podemos sair por aí desprotegidos.
                -Sabe porque eu fiz isso – falou Collon desesperado .
                -Eu sei. E sou muito grato, me ajudou e ajudou muitos, pelo menos os que conseguiram e mesmo os quem morreram, eles ficaram gratos de pelo menos uma vez na vida terem esperança de sair daquele lugar. O circo faz apresentações pelo estado inteiro, a cidade mais próxima daqui em breve terá a presença dele. É o único lugar que ela pode estar, ninguém vai tão longe sozinho. Tudo bem?
                -Ok – ele respirou fundo – Vai dar tudo certo.
                -É claro que vai – Joe o confortou – Somos uma dupla e de agora em diante vamos ter uma vida ótima, primeiro vamos descolar uma grana aqui no circo e depois vamos arranjar um lugar para morar um emprego que de para viver e vamos vencer.
                -Começar do zero é tão difícil – se lamentou o garoto.
                -É – Joe se alongou – Mais nada me tira da cabeça, como conseguiu?
                -Eu não sei ao certo. Eu estava dormindo e tive uma visão, do buraco no muro e todo mundo indo embora. Eu vi que era uma da manha, eu furei a segurança e fui até o quarto da Lindah dar parabéns para ela.
                Dois dias antes –
Collin havia levado uns quinze minutos para desviar dos guardas e andar pelos corredores, porque Lindah tinha que ficar em uma ala tão afastada.
                Abri a tranca, do lado de fora era bem fácil, mais por dentro era impossível. Entrei no quarto e calcei a porta para não se tranca comigo lá dentro. Lindah estava deitada, toda encolhida bem no centro do quarto branco acolchoado, sua pele branquinha seus cabelos extremamente negros.
                -Parabéns Lindah – sussurrei em seus ouvidos.
                Ela abriu os olhos, lindos olhos azuis e um sorriso delicado.
                -Oi Collin.
                -Oi Lindah – ele se sentou no chão diante dela e ela fez o mesmo.
                -Parabéns – ele falou de novo, e lhe entregou um pacotinho pequeno, feito de papel amarronzado, como aqueles sacos de pães, ele estava lacrado por uma cordinha barbante cor de palha.
                Ela apenas sorriu e começou a abrir o embrulho. Dentro dele um colar, feito do mesmo barbante e uma pedra de pingente, nela estava gravado as letras de seus nomes.
                - Queria te dar algo melhor,  mais sabe como é, não tem nada nesse lugar a não ser concreto – o garoto riu.
                -É perfeito, melhor que qualquer presente – Lindah colocou no pescoço imediatamente.
                Enquanto ela colocava o colar Collin ficava observando ela, seus machucados. Uma cicatriz no pescoço, uma costura mal feita no braço, um corte na perna, o pé ainda roxo e torcido, os lábios rachados e um aranhão na bochecha, fora aqueles que estavam escondidos pelos uniformes do centro de pesquisa.
                -Ficou perfeito – ela sorriu – Obrigado.
                -Essa é só uma parte do presente – falou ele tocando a mão gélida de Lindah.
                -O que vai fazer? – o sorriso de Lindah era delicado e preocupado sabia que Collin faria qualquer coisa por ela.
                -O que as pessoas fazem quando tem 16 anos? – ele perguntou como resposta.
                -Eu não sei, acabei de fazer – ela riu docemente.
                - Elas vão até aquelas grandes lojas, fazem compras, aprendem a dirigir aqueles carros, saem para comer... Você vai fazer tudo isso, eu prometo. E não vai demorar par acontecer.
                -Não seja bobo – ela riu – Me preocupo quando fala essas coisas.
                -Não se preocupe, só esteja atenta – ele a alertou.
                -Espero que não faça besteiras – temeu Lindah.
                -Agora você que está sendo boba – ele tocou seu cabelo e beijou sua bochecha – Boa noite bobinha.
                Ele saiu do quarto, e foi até a cozinha, precisava pensar frente. Pegou o máximo de fósforos e tudo mais, um pouco de bebidas. Era difícil desviar das câmeras atentas, mas não impossível. Isso nunca foi tentado, vai dar certo, pensou.
                Collin correu para  frente do muro, e o ensopou de bebidas com álcool, ele sabia que havia minas do outro lado do muro, para aqueles que tentassem pular, apesar de serem bem altos, e ainda terem uma grade. Ele escalou um pedaço do muro e cortou e por um pedaço da tela passou um pedaço de pedra, ficou minutos até estar na posição perfeita. Soltou um fosforo com a outra mão, e o chão ascendeu fogo a baixo dele, e com a mão atravessada a grade soltou a pedra.
                A pedra atingiu a mina. A explosão atingiu a área explodindo uma pequena parte do muro e arremessando Collin longe, bem no meio do pátio.
                O fogo ajudava a corroer o pedaço do muro arrancado. Collin ficou deitado no pátio em meio aos pedaços do muro, o fogo queimava o concreto espalhando a fuligem preta, gases eram liberados daquele chão rochoso, os estoques de carvão de ficava perto do muro ajudou a chama se espalhar. O sinal de incêndio tocou, a sirene de problemas perturbou a paz. A noticia do buraco se espalhou e todos correram para a fuga, para o confronto no meio do pátio.
                Atualmente.
                - Você vai ficar famoso cara – falou Joe dando um soco no ombro do amigo – O cara que livrou os mutantes das garras da sociedade.
                -Não exagera Joe -  Collin olhou para o circo mais uma vez, tudo aquilo era muito impressionante – Acha mesmo que vão engolir que somos essas paradas que você falou?
                -É claro que vão, e é a verdade, ou eu não sou superforte e você não prevê o futuro? Vai ser fácil, e ainda vamos ter onde dormir, comer e ainda carona.
                -Tem razão, não vai ser tão difícil.
                Realmente não ia ser tão difícil. O circo estava sempre aberto a novos talentos, e aqueles dois tinham uma pequena ajuda da genética para isso.  A primeira semana foi um pouco cansativa, o circo estava a caminho da cidade, barracas eram carregadas para o novo terreno, e eles precisavam montar a lona, nessas horas até os palhaços viravam ajudantes, isso não era grandes coisas para o fortão do Joe, mais Collin já estava ficando cansado.
                -Ei garoto – falou um home barbado e barrigudo - Me ajuda a levantar isso aqui.
                Joe foi e sem esforço algum levantou a tora de madeira que estava sendo usada como suporte para a grande tenda.
               
               

              Continua... 

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