-Vou realizar seu sonho Lindah –
falou Collin, o garoto de rosto claro e cabelos pretos sedosos, ele estava com
um pequeno corte na bochecha, era recente.
-Não está em nosso alcance –
respondeu a garota de olhos azuis arregalados, cara sardenta e voz doce. Sua
pele branca reluzia ao sol, na sua perna
cortes aparente e em um dos pés um roxo preocupante. Uma lagrima estava no
canto do seu rosto, escorrendo pela bochecha.
-Vou conseguir Lindah, por você –
ele tocou sua mão – Eu prometo.
Um pequeno sorriso surgiu no
canto do rosto de Lindah, era bem raro ela sorrir, mais de vez em quando o
fazia.
-Acha que consegue andar? –
Collin se levantou e ajudou a garota se levantar também.
-Sim, só preciso me acostumar com
isso – apesar de disfarçar, a dor era intensa, Lindah tentava não tocar o chão
com o pé esquerdo, mais era quase impossível não sentir dor, seu pé estava todo
roxo, e a marca da costura mal feita era bem notável. Uma amostra de carne
havia sido tirada para novos exames.
-Ei – falou o garoto a guiando
pelo corredor – Está perto.
-O que? – a voz de Lindah era
sofrida e doce.
-Seu aniversario, dezesseis anos
– ele sorriu, como se o aniversario fosse dele. Collin sempre estava feliz e
sorria ao falar ou mesmo de pensar de Lindah.
-Esquece Collin, não há o que
comemorar.
-Você está aqui, e comemoro a
cada dia – ele parou ao ver que Lindah não conseguia dar o próximo passo - Da maneira que vivemos, não podemos nos dar
ao luxo de dizer apenas mais um ano. Não são muitos para a maioria de nós. Sabe
disso.
-Não sei se quero mais Collin –
ela baixou o olhar, como faz uma criança quando fez algo errado.
-O que disse? – a voz do garoto
virou uma voz ríspida e desesperada – Lindah! – ele sacodiu seu braço.
-Eu não consigo muito mais – ela
chorou – Não sou tão forte.
Collin a soltou, a fazendo se
apoiar no pé machucado, Lindah fechou os olhos de dor. Não só pelo pé mais por
tudo que vivia.
-Não vai precisar aguentar por
muito mais tempo – ele esbravejou e saiu andando.
-Collin – gritou Lindah a medida
que seus pulmões franzinos conseguiam – Collin!
Mais não obteve resposta. Collin
estava nervoso de mais, tantas torturas, tantos exames, tantas buscas para
espalhar ou apenas eliminar esse DNA DEFEITUOSO, essas vidas de prisioneiros.
Eles morrem um a um dentro do
grande forte de aço no meio da floresta, uma repartição secreta do governo.
Estudos sobre a mutação de DNA, lugar onde os estudados ou cobaias, como eram
chamados, vivem e morrem para a ciência. Eles formaram 100 ao todo, do começo dos estudos até hoje
em dia, mais a cada dia um fica mais fraco, mais testes fatais a vida são
realizados. Menos de trinta mutantes
sobrevivem no atual centro.
Pessoas com habilidades
especiais, é o que consta nos papeis, mais a maneira que eles são tratados é
pior do que se trataria um assassino condenado a pena de morte. Mais isso está
perto de terminar.
Domingo, 22 de Março as 08:00.
A explosão podia ser vista de
longe, quem sabe as fazendas mais próximas não suspeitassem de algo agora. A
fumaça se espalhou pelo céu. A correria dentro da base de aço era a garantia de
uma vida melhor.
-Bloqueiem a saídas – disse um
dos guardas fardados.
O bando da segurança corria por
todos os lados, suas armas com sedativos e outras com balas de verdade. Os dois
times corriam por todo o terreno acinzentado. Mais a fumaça ajudava os mais
espertos.
Joe jogou um pedaço do muro, que
havia caído na explosão, em cima dos soldados treinados. Outros vinham por trás
tentando cerca-lo.
-Venham! Venham me pegar! –
gritava Joe, seus cabelos loiros, eles estavam sujos de fuligem e seus músculos
de pó preto da fumaça. Agora ele arremessou um bloco de ferro enorme que ficava
no pátio, em cima dos “protetores da lei”.
O muro de aço com barragens de
ferro agora estava com um enorme rombo, o sorriso que se abriu no rosto de Joe
era inexplicável, finalmente podia sair daquele lugar, finalmente teria sua
liberdade. Ele correu no meio da fumaça, estava bem perto do muro, já podia
sentir o cheiro da grama, e o verde da floresta já podia ser visto no lugar do
cinza da fortaleza. Mais havia algo que precisava fazer antes de sair.
-Collin – gritou Joe em meio a
fumaça – Collin!
Joe corria procurando o amigo, em meio aquela confusão, será que
ele ainda estaria vivo? Ele não se importava, não sairia dali sem levar Collin
com ele, sua vida já era difícil o suficiente e não viveria sem seu amigo.
-Collin! – ele jogou seus cabelos
para trás limpando o suor da testa – Caramba cara, aparece logo!
Ele voltou pela fumaça até
esbarrar em alguém, era Collin, ele mexeu no ombro, estava ferido, e sua cara
era de dor. Estava todo sujo de fuligem, e com o braço ensanguentado.
-Porque demorou? – Joe o ajudou a
correr pela fumaça. Eles atravessaram o buraco do muro.
-Não posso ainda Joe – ele tentou
voltar, mais Joe o segurava e ele era superforte.
-Vamos todos nos encontrar lá
fora, quando todos fugirem, vai dar tudo certo – ele puxou Collin correndo pela
mata adentro – Em quanto isso temos de ficar vivos.
A poeira não baixava do lado de
dentro do forte, o pátio continuava um campo de batalha, infelizmente os únicos
que conseguiram fugir por enquanto eram Joe e Collin. Uma bomba foi atirada, um
sinalizador, algo que ateou de chamas as paredes do centro de pesquisa, ainda
havia muita gente lá dentro.
-Ebby! –
gritou Hector – Ebby, aparece Ebby.
-Vamos
embora Hector.
A
moça de pele rosada puxou o garoto negro para fora da sala de espera do forte,
eles estavam pouco machucados, mais a chama se espalhava rápido, logo todos
morreriam queimados.
-Por
favor me deixe achar a Ebby antes – ele resistiu com seus lindos olhos cor de
mel, todos cheios de lagrimas.
-Não
vou te deixar aqui para morrer garoto – ela o puxou com força – Ebby não tem
como escapar mais, mais ainda há uma chance para você, para nós.
Os
guardas invadiram a sala antes que eles pudessem correr. Eles se entreolharam o
fim agora era inevitável.
-Vá
Hector, Vá! – gritou
Então
a pele do garoto se desfez, assim como sua imagem. Os guardas tentaram agarrar
o ar. Ele estava invisível, e correu para fora da sala, para alcançar a
abertura no muro e ganhar o mundo a fora.
Ele
não conseguia conter as lagrimas nem mesmo enquanto estava invisível, ele havia
perdido sua irmã Ebby, sua irmã mais nova, que ele ajudava a manter viva desde
o dia que foi levado para o forte. E a pobre moça de pele rosada que roubava
comida para ele comer sempre que podia, também estava capturada, e quem sabe
morta. Agora ele estava sozinho.
-Lindah
– a garota abriu a porta com força, usando o pé. Um policial a cercou por trás,
mas Jane estava acostumada com brigas, apesar da aparência madura a gentil. Ela
o chutou o fazendo cair.
Jane corria pelo forte, havia
muitos corredores, salas, setores, pátios. O muro aberto não estava muito
longe, mais Jane preferia morrer a deixar Lindah para trás.
-Lindah – ela abriu outra sala –
Lindha apareça, vamos sair daqui! Lindah – ela berrou até sua voz falhar.
-Me ajude – uma pequena mão de
pele escura se ergueu em meio as madeiras caídas, o fogo estava se espalhando,
Jane precisava correr, mais ela não conseguiria se não ajudasse a garotinha
jogada em meio as blocos de madeiras no canto da sala.
-Meu deus – Jane apoiou a cabeça
da menina no colo – Está bem com você querida? – era obvio que não, mas Jane se
recusava a deixar.
-Não – ela tossiu, sangue saiu de
sua boca – Hector.
-Como? – ela limpou o sangue com
a ponta da manga da blusa.
-Meu irmão – ela tossiu mais
sangue, estava partindo.
-Não fale mais nada, vou lhe
curar.
-Não – ela falou – Não tem mais
jeito.
Jane possuía o dom da cura, mas a
menina já estava quase morta, ela não podia fazer nada para ajuda-la, e isso
fazia de Jane uma completa inútil.
-Eu vou tentar – Jane começou a
chorar sobre o corpo da garota, ela queria poder ajudar – Fique viva.
-Prometa algo para mim – ela
deixou uma lagrima rolar. Jane sacudiu a cabeça rapidamente, ela faria qualquer
coisa – Cuide do Hector, eu devo isso a ele – sua pequena mão repousou sobre a
de Jane – Boa sor...
Ela não conseguiu terminar de
falar, Jane desabou em lagrimas, ela não suportou a ideia de deixar aquele
corpinho ali, a menina não devia ter nem dez anos, mais ela precisava sair,
achar Lindah e viver.
Jane desceu de andar, estava com
mais chamas do que o andar de cima. Jane iria morre. Era a única coisa que ela
mesma esperava.
Ela entrou na área de internação,
em uma das salas, um corpo aberto, e objetos de operação espalhados. Já estava
morto, o homem. Pobre homem, abandonado em meio a confusão para morrer na mesa
de cirurgia, Jane o conhecia, ele tinha a habilidade de atravessar as pessoas,
suas moléculas eram instáveis.
-Droga – gritou Jane – Droga!
Jane sua estupida – gritou com sigo mesma.
Ela correu em direção a ala
leste, as chamas tomaram essa parte quase toda, mais era o único lugar que
Lindah poderia estar, no seu quarto, se é que podia chamar assim. Uma cela
cercada de grades e cadeados, uma sala branca acolchoada, a prova de Lindha,
ele jamais sairia de lá sozinha.
Jane chegou a ala Leste, desviou
do fogo e fez uma pequena queimadura no braço, mais seu poder de cura a ajudava
nessas situações. Ela avistou o quarto, correu para frete dele, felizmente o
corredor não pegava fogo. Ela correu para a frente da sala, da pequena
janelinha de vidro avistou Lindah
sentada no meio do quarto. Lindah ao ver o rosto de Jane pulou e correu em
direção a janela, ela esmurrou a janela.
-Por deus Lindah, achei que não
te acharia.
-Me tire daqui Jane, me tire! –
gritou Lindah já rouca.
Jane pegou uma pedra de uma das
paredes derrubadas e quebrou o fecho, e depois outro e esmurrou a porta. Ela
conseguiu e com o baque foi arremessada para dentro da sala, ela abrasou
Lindah.
As duas começaram a chorar, ali
abraçadas no chão.
-Achei que ninguém viria, que
ficaria aqui e morreria queimada, como no inferno.
-Não diga isso – ela apertou a
garota ainda mais – Estou aqui, já passou.
Ela ajudou Lindha se levantar.
-Vamos.
-E os
guardas? – Elas começaram a correr pelo o andar, sempre desviando do fogo e
chorando pelos corpos que viam espalhados.
-Mortos
a maioria, e o resto no pátio, lá está a verdadeira selva. Vamos pela fumaça,
tem um buraco no muro.
-Collin,
cadê ele? – Lindah olhou por todos os
lados assim que chegaram no pátio, elas
tentavam passar desapercebidas, eram ambas fracas de mais para poder enfrentar
os guardas armados.
-Eu não
sei. Mais ele é jovem e forte, deve estar bem. Melhor do que a gente, pode ter
certeza.
-Foi
ele – falou Lindah correndo atrás de Jane pela fumaça.
-Como
assim? – perguntou Jane ofegante, quase tropeçando em uma pedra.
-Ele
que fez isso, o buraco, o fogo a fuga.
Ele disse que faria – revelou Lindah segurando a mão de Jane com medo de se
perder. Elas corriam desesperadas pelo pátio.
-Não
sei como ele fez isso – começou Jane- Mais foi a melhor coisa que já aconteceu
com...
Antes
de Jane poder terminar, ela foi agarrada pela cintura e jogada no chão por um
guarda. Lindha deu um grito.
-Jane!
– ela correu atrás de sua salvadora.
-Não
Lindah – gritou Jane – Sai daqui.
-Não! –
gritou Lindah.
Um
guarda corria na direção delas, em breve Lindah também seria rendida.
-Lindah
– gritou Jane brava – Não arrisquei minha vida por nada, eles não vão me matar,
tenho valor, agora vá. ANTES QUE EU ME ARREPENDA DE TER SE SALVO!
Se
Lindah ficasse seria capturada, e não faria diferença para a vida de Jane.
Então ela correu, atravessou o rombo no muro, e correu pela mata. Bateu em
varias arvores porque estava tonta devido a fumaça, seu rosto estava molhado,
queria Jane ali, queria ver Collin, será que seu amigo Hector estaria bem.
Um
pequeno riacho, a agua devia bater no máximo no meio da cintura, Lindah não
sabia nadar, mais não se afogaria com aquela quantidade de agua, ela se atirou
no riacho para atravessar a floresta, quanto mais longe mais salvo estaria.
No meio
da agua, bateu em algo, em alguém. Lindah deu um grito, uma pessoa, a primeira
vista achou que estava morta, mais não, estava viva, ou melhor vivo.
-Cuidado
garota – ele a empurrou e saiu da agua, espremia as roupas. Ele estava calmo.
Ele
seguiu pela floresta, Stephan era seu nome. Normalmente ele podia voar, era
algo que o orgulhava, o que lhe tornava diferente, diferente o suficiente para
ser trancafiado no forte. Mais a poucos meses suas asas haviam sido arrancadas,
apenas uma enorme cicatriz em suas costas era o que restava, mais ele ainda era
forte e ágil o suficiente para fugir
daquele lugar. Ele agiu indiferente com a presença de Lindah, que a propósito
não era uma conhecida dele.
Stephan
apenas seguiu pela floresta a dentro, a menina que a pouco tempo esbarrara no
rio com ele não era rápida o suficiente
para o seguir. Passar a noite em uma arvore, era sua escolha.
Terça,
24 de março.
Stephan já estava cansado de
andar pela mata, imaginava como sair daquele ninho de cobras e animais
selvagens, porque aquela base tinha que ser tão bem escondida.
Já fazia umas horas que ele
estava com uma sensação se estar sendo perseguido, ele precisava acabar com
essa incerteza. No meio do caminho parou, e ao perceber um movimento anunciou.
-Sei que está aí – falou com sua
voz ríspida.
Um garoto magro de pele escura
surgiu de trás de uma arvore, seus lindos olhos tristes piscaram e ele abriu um
pequeno sorriso, estava sem graça com a situação.
-Eu não
sei quem você é e não me interessa – ele o avisou. Stephan não era sociável, e
não ligava para alguém além dele, ainda mais para um completo estranho – Agora,
cai fora moleque.
Mais o
garoto o ignorou e continuo o seguindo.
-Como
se chama?
-Não
interessa – ele apenas continuou analisando uns galhos caídos, precisava se
localizar, ou pelo menos juntar madeira para uma fogueira, ou morreria de frio
durante a noite.
-Claro
que sim –ele falou abaixando e pegando galhos também .
-Stephan,
agora me deixe em paz.
-Me
chamo Hector.
-Quem
se importa – ironizou o rapaz se levantando e seguindo.
Hector
persistiu e foi atrás dele.
-Como
fugiu? Eu fui pelo muro, depois corri pela mata, peguei um atalho – o garoto
encarava o rapaz alto como um ídolo – E você?
-Fui
nadando – Stephan balançou a cabeça se perguntando porque estava respondendo
aquele pirralho – Porque se importa, vai morrer daqui a pouco mesmo.
-Eu
duvido aposto que sou mais forte que você – se gabou o moleque.
-É?–
Stephan agarrou Hector pela gola e o levantou até os pés dele deixarem o chão –
E porque acha isso?
-Sou o
paciente número 013 – ele mostrou a pulseira de metal no braço.
Stephan
o colocou de volta no chão.
-E você
é 98. Chegou ano passado junto com aquele rapaz, o numero 99 – eles continuaram
andando – Não sofreu o suficiente por aqui. Quem era o rapaz que chegou com
você?
-Não
interessa.
-Era
seu irmão? Era parecido com você, principalmente os cabelos e olhos negros
brilhantes.
-Está
bom, ele era meu irmão – confessou Stephan – Mais o que te importa? Porque está
atrás de mim?
-Porque
somos irmãos – ele falou sorrindo.
-O que?
Você está maluco? – Stephan chegou a rir com o comentário.
-Somos
todos irmãos, desde o numero 1 ao numero 100. Temos que nos unir, só assim
sobrevivemos.
-Não
seja ridículo.
Já era
noite, Hector não havia desistido de acompanhar Stephan. Eles ascenderam um
fogueira pela noite, já não estava com tanto frio. Hector revelou uma porção de
frutas, eles espetaram algumas em galhos e assaram para comer.
-Qual é
sua habilidade especial? – perguntou Hector, devorando uma fruta que ele nem
sabia ao menos o nome.
-Habilidade
especial? – Stephan zombou – Que jeito mais meigo de chamar uma maldição.
-Não é
uma maldição. Minha mãe falou que é um milagre, que somos anjos do senhor, mais
as pessoas não nos compreende. E por isso nos atacam.
-Ela
não sabe o que diz – ele devorou uma banana.
-Ela
sabe sim, eu e minha irmã nascemos com habilidades especiais. Eu fico invisível
– assim que falou ele desapareceu diante dos olhos de Stephan que arregalou os
olhos, como se não pudesse acreditar e voltou a ficar visível alguns segundos
depois.
-E sua
irmã – perguntou se interessando.
-Ela
respira de baixo da agua, sinto a fala dela.
-E onde
ela está?
-No
forte, provavelmente morta, ou capturada que é pior ainda. Eu devia cuidar
dela.
-Não se
sinta culpado. Pessoas como nós acabam mortos ou aprisionados mesmo.
-Mas
não devia ser assim – ele se lamentou – E você o que faz.
-Fazia
– falou – Eles acabaram com o meu problema.
-Como
assim?
Stphan
se virou, e tirou a blusa. Uau! Foi a única coisa que Hector pensou, uma enorme
marca de costura percorrendo as costas inteiras.
-Bárbaros
– falou o pequeno garoto – Não se sente triste, suas asas...
-Me
fizeram um favor – falou – Agora sou um humano, e não uma aberração.
-É isso
o que pensa de mim? – perguntou o garoto com olhos tristes – É isso que pensa
de todo mundo que foi trancado naquele maldito forte?
-Deus
errou na hora de nos criar.
-Deus
não erra – gritou Hector – Devia estar triste, isso o torna diferente dos
bárbaros, o torna especial. E com asas, um anjo.
-Fico
feliz de estar vivo, meu irmão não teve a mesma sorte – revelou.
-Só
porque não tem mais elas não significa que é um deles.
-E
porque não? – perguntou Stephan zombando
do pensamento do garoto.
-Porque
está aqui – Hector mostrou o pulso, que significava sangue, e bateu no peito,
bem acima do seu coração.
Eles
ouviram um barulho, um barulho de passo. Hector pula em cima de Stephan
deixando os dois invisíveis. E em um segundo um guarda apareceu, ele olhou para
os lados. Os dois correram para longe, ou pelo menos Stephan correu, Hector
estava montado em suas costas agarrado em seu pescoço, assim os dois estavam
seguros. Correram para o mais longe que puderam. E só pararam quando Stephan
não conseguia mais andar.
-Estamos
longe o suficiente – falou Hector pulando das costas de Stephan.
Eles
estavam ofegantes, fazia quase uma hora que Stephan corria, e que pernas
rápidas.
-Tem
certeza que resistência não é sua habilidade – brincou Hector.
Eles se
jogaram no meio das folhas, estavam exaustos.
-Obrigada
– falou Stephan – Essa foi por pouco.
-Sim –
Hector se virou e encarou Stephan – Eu disse que precisávamos ficar juntos, não
falei.
-Talvez
você esteja um pouco certo – ele riu.
-Estou
sim.
-Vou
acender a fogueira – Falou Stepah recolhendo uns galhos no chão – De novo.
-Sabe
se algum de seus amigos conseguiu escapar? – perguntou Hector se aconchegando a
fogueira que começava a queimar finalmente.
-Amigos?
– Stephan riu – Não tenho amigos.
-Sério? - Hector riu – Apesar da aparência rebelde e
péssimo humor, você é um cara legal, pelo menos um amigo devia ter.
-Não
tentei fazer amigos, só me afastei, estava tentando apenas esperar passar. Como
um pesadelo – ele deu um sorriso dolorido – E você.
-Tenho
sim, mais estou lá a nove anos. Antes eles permitiam ligações, eu falava com
minha mãe era bem melhor.
-Nossa, nove anos é muito tempo. Por isso é o 013,
chegou lá a muito tempo.
Hector
concordou com a cabeça.
-Quem
são seus amigos? – perguntou Stephan.
-Não
são muitos, e são mulheres. Sou o único menino com menos de 17 anos lá.
-Tem
sorte, assim pode escolher com quem vai casar quando crescer - brincou Stephan.
-Tem a
minha irmã, Ebby – falou ele triste – Ela tem 10 anos de idade, tem a Alana,
uma moça alta de cabelos curtos que sempre dividia a refeição comigo. Crianças
só recebem meia refeição, e minha irmã tem muita fome, então eu sempre dividia
a minha com ela, a moça sempre roubava um pouco para eu poder comer mais, sou
muito grato a ela.
-Sabe
se ela escapou?
-Não,
ela me ajudou a sair e ficou para trás – ele respirou fundo, se sentindo
culpado pelo o que houve – Tem um cara, ele não é meu amigo, nem sei se ele
sabe quem eu sou. Mais ele é de mais, ele é superforte. Dizem que o muro foi
reforçado, depois que ele quase fugiu a uns anos atrás.
-Esse eu sei quem é, ele sempre
fica correndo pelo pátio na hora do banho de sol – Stephan riu – Parece meio
perturbado.
-Eu
acho ele demais – Hector se encheu de orgulho – E tem a Jane, ela é nova e
muito legal, ela está sempre calma, e tem dia que ela lê em voz alta em uma
sala do lado de dentro. Eles permitem isso, acalma muita gente.
Nenhum
guarda, segurança ou cientista impediria ela. Jane ainda não era uma ameaça, e
toda vez que ela lia e conversava com as pessoas as enchiam de paz.
-Jane?
O que ela faz – Stephan se acomodou no meio da folhagem assim como Hector, os
dois estavam deitados de barriga para cima observando o céu.
-Ela
cura as pessoas. Quando Ebby não se recuperou de uma operação ela a curou, devo
minha vida a ela.
-Você
acha que... que ela poderia curar o meu machucado, essa cirurgia mal feita.
-Acho
que sim, Jane é muito gentil e te ajudaria sem pedir.
-Quem
mais conhece.
-Mais
ninguém – suspirou Hector – Espera, tem a Lindah.
-E quem
é ela?
-Lindah
é uma garota, tirando minha irmã ela é a mais nova, hoje é o aniversario dela –
falou Hector rindo – Parabéns Lindah, onde quer que você esteja.
-E o
que ela faz?
-Lindah
é o grande motivo, a pandora da base – falou Hector ligando as estrelas do céu.
-Como
assim?
-Ela é
a paciente numero 001. A primeira de todo e o motivo da base.
-E o
que ela faz? – perguntou Stephan de novo.
-Eu não
sei bem, ninguém sabe ao certo. Ela fica lá naquele quarto branco, sentada no
meio dele sem piscar, sem falar, só dormindo. E quando sai não parece que esta
lá, é como se estivesse ligada em outra dimensão. Quando você conversa com
Lindah você sente como se pertencesse essa outra realidade, é muito misterioso
– Hector encarou o novo amigo – Tenho pena de Lindha.
-E
porque?
-Você
sabe quem é o Governador? Não sei se ainda é ele, não temos acesso a mundo lá de fora e como
você entrou faz pouco tempo.
-Sim,
sei, o que tem ele?
-Ele é
o pai dela, quando ela nasceu ele mandou construir a base a atrancou lá. Um ano
depois fundou o projeto de pesquisa de mutação do DNA, e assim começou tudo.
Dizem que o poder dela é incrível, ela entra no fundo da sua mente, mexe na sua
alma e faz o que quiser com você, pode te torturar, implantar informações na
sua mente, saber o que você pensa, te atormentar, apagar sua mente, te fazer
mais inteligente ou falar diretamente no seu coração.
-Isso
não é legal é afrontador – falou Stephan espantado.
-Mais
ela não faz nada disso, ia gostar dela se a conhecesse. Poderiam ser amigos de
cicatriz – brincou Hector – Depois de Lindah você é a pessoa mais remendada que
eu já conheci.
-Finalmente
alguém com algo em comum – ele riu – Nossa isso é horrível, não devia ter dito
isso.
-Não
faz mal, é a verdade não é – falou Hector.
-É
melhor dormirmos, e breve estaremos fora da floresta, já que paramos de andar
em círculos – riu Stephan.
-Como é
lá fora?
-Não
precisa que eu lhe diga, amanha você vai ver – ele sorriu.
Era a
primeira vez que Hector ia ter uma imagem do mundo lá fora, afinal havia sido
trancado lá no forte a muito tempo e não se lembrava de nada.
O sol
incomodava os olhos de Hector, ele acordou e olhou para o lado Stephan não
estava mais lá.
-Stephan?
– ele perguntou andando ao redor de onde havia dormido.
E em um instante uma mão repousou
em seu ombro, ele iria gritar, mais viu que era o seu novo amigo, e respirou
fundo.
-Quase me matou de susto cara –
falou Hector.
-Calma,
só estava olhando uma coisa.
-O que?
-Venha
ver.
Eles
andaram pelas arvores, e em cinco minutos estava lá. Uma estrada e um posto de
gasolina.
-Meu
deus – pulou Hector de alegria – Não acredito, não acredito! – Ele pulou e
abraçou Stephan.
-Quer
ir lá ver?
-Claro.
Eles
atravessaram a estrada correndo. Hector entrou no barzinho do posto de gasolina
correndo, ficou doido quando viu a comida e a música e pessoas normais. Ele
deixou uma lagrima rolar.
-Ei
garotos, venham aqui – chamou uma garçonete que ficou com pena dos dois
desajustados com roupas estilo hospital.
-Oi –
falou Hector empolgado.
-De
onde são?
-Trabalhávamos
em um laboratório, houve um acidente e não temos para onde ir – mentiu Stephan.
A
garçonete olhou para os dois lados.
-Não
posso ajudar em relação a isso, mais posso dar a vocês o que comer por enquanto, e umas roubas, temos
uma caixa de doações.
-Isso
seria maravilhoso – falou Hector.
Eles
comeram o prato de bacon com ovos e arroz correndo, bebiam o suco mais rápido
do que podiam respirar.
Vestiram
as roupas, estavam largas, mas bem melhor do que aquelas blusas e calças cor
azul, assim como roupas de hospital. Mais as pulseiras, essas eram difíceis de
tirar.
-Vamos
ficar lá fora, conseguir uma carona, ir para a cidade, tentar arrumar um bico e
sobreviver – suspirou Stephan.
-Apesar
das dificuldades que vamos ter, e não parecer a melhor coisa do mundo – começou
Hector – Vai ser a melhor coisa da minha vida.
-Vamos
lá.
Eles
sentaram na estrada esperando uma carona
rumo a cidade.
Terça, 24 de Março as 10:00.
-Acorda
Collin, acorda, já chega de dormir bela adormecida.
Collin abriu o olho, seu corpo
inteiro doía como se tivesse levado uma surra. Ele havia inalado muita fumaça
na fuga, ele e Joe andaram por um dia inteiro, estavam exaustos e desmaiados na
beira da estrada.
-Onde
estamos Joe?– perguntou o garoto se sentando.
-Bem
vindo ao circo Estrelato – falou ele como um apresentador de show de TV.
-Circo?
– perguntou Collin assustado.
-Quando
você desmaiou eu te carreguei por um tempo, mais mesmo o fortão aqui – brincou
Joe – Precisa comer, o pessoal do circo parou para abastecer em um posto e
estávamos na próxima virada da estrada. Eles nos pegaram, e estamos aqui.
-É você
resumiu bem rápido – riu Collin, ele se ajustou na cama de palha e olhou sua
volta, a grande lona, instalações com animais e pessoas com roupas engraçadas
andando para lá e para cá. Era algo que ele nunca tinha visto, mais algo surgiu
em sua cabeça que fez ele perder o sorriso – Joe, Joe.
-O que
foi? – perguntou Joe enquanto tirava a poeira de suas roupas.
-Cade?
Joe
respirou fundo.
-Ela
não está aqui Collin, acorda. Ela pode estar em qualquer lugar e até...
-Nem
pense em dizer isso – o ameaçou.
Collin
se levantou rápido, sacodiu as roupas tirando o feno e a poeira das roupas, sacodiu a cabeça para
se manter acordado.
-Vou
procura-la.
-Collin,
não vai a lugar algum. Estamos seguros aqui.
-Estamos
livres e fim – protestou o garoto mais novo.
-Collin
para e pensa, acha que só porque saímos de lá está tudo bem? Agora vai começar
tudo, a guerra a caçada. Agora temos que nos proteger e esconder. Ou acha que
eles vão deixar para lá, pessoas como nós? Por isso estávamos lá Collin, é lá
que eles nos querem, então não podemos sair por aí desprotegidos.
-Sabe
porque eu fiz isso – falou Collon desesperado .
-Eu
sei. E sou muito grato, me ajudou e ajudou muitos, pelo menos os que
conseguiram e mesmo os quem morreram, eles ficaram gratos de pelo menos uma vez
na vida terem esperança de sair daquele lugar. O circo faz apresentações pelo
estado inteiro, a cidade mais próxima daqui em breve terá a presença dele. É o
único lugar que ela pode estar, ninguém vai tão longe sozinho. Tudo bem?
-Ok –
ele respirou fundo – Vai dar tudo certo.
-É
claro que vai – Joe o confortou – Somos uma dupla e de agora em diante vamos
ter uma vida ótima, primeiro vamos descolar uma grana aqui no circo e depois
vamos arranjar um lugar para morar um emprego que de para viver e vamos vencer.
-Começar
do zero é tão difícil – se lamentou o garoto.
-É –
Joe se alongou – Mais nada me tira da cabeça, como conseguiu?
-Eu não
sei ao certo. Eu estava dormindo e tive uma visão, do buraco no muro e todo
mundo indo embora. Eu vi que era uma da manha, eu furei a segurança e fui até o
quarto da Lindah dar parabéns para ela.
Dois
dias antes –
Collin havia levado uns quinze
minutos para desviar dos guardas e andar pelos corredores, porque Lindah tinha
que ficar em uma ala tão afastada.
Abri a
tranca, do lado de fora era bem fácil, mais por dentro era impossível. Entrei
no quarto e calcei a porta para não se tranca comigo lá dentro. Lindah estava
deitada, toda encolhida bem no centro do quarto branco acolchoado, sua pele
branquinha seus cabelos extremamente negros.
-Parabéns
Lindah – sussurrei em seus ouvidos.
Ela
abriu os olhos, lindos olhos azuis e um sorriso delicado.
-Oi Collin.
-Oi
Lindah – ele se sentou no chão diante dela e ela fez o mesmo.
-Parabéns
– ele falou de novo, e lhe entregou um pacotinho pequeno, feito de papel
amarronzado, como aqueles sacos de pães, ele estava lacrado por uma cordinha
barbante cor de palha.
Ela
apenas sorriu e começou a abrir o embrulho. Dentro dele um colar, feito do
mesmo barbante e uma pedra de pingente, nela estava gravado as letras de seus
nomes.
-
Queria te dar algo melhor, mais sabe
como é, não tem nada nesse lugar a não ser concreto – o garoto riu.
-É
perfeito, melhor que qualquer presente – Lindah colocou no pescoço
imediatamente.
Enquanto
ela colocava o colar Collin ficava observando ela, seus machucados. Uma
cicatriz no pescoço, uma costura mal feita no braço, um corte na perna, o pé
ainda roxo e torcido, os lábios rachados e um aranhão na bochecha, fora aqueles
que estavam escondidos pelos uniformes do centro de pesquisa.
-Ficou
perfeito – ela sorriu – Obrigado.
-Essa é
só uma parte do presente – falou ele tocando a mão gélida de Lindah.
-O que
vai fazer? – o sorriso de Lindah era delicado e preocupado sabia que Collin
faria qualquer coisa por ela.
-O que
as pessoas fazem quando tem 16 anos? – ele perguntou como resposta.
-Eu não
sei, acabei de fazer – ela riu docemente.
- Elas
vão até aquelas grandes lojas, fazem compras, aprendem a dirigir aqueles
carros, saem para comer... Você vai fazer tudo isso, eu prometo. E não vai
demorar par acontecer.
-Não
seja bobo – ela riu – Me preocupo quando fala essas coisas.
-Não se
preocupe, só esteja atenta – ele a alertou.
-Espero
que não faça besteiras – temeu Lindah.
-Agora
você que está sendo boba – ele tocou seu cabelo e beijou sua bochecha – Boa
noite bobinha.
Ele
saiu do quarto, e foi até a cozinha, precisava pensar frente. Pegou o máximo de
fósforos e tudo mais, um pouco de bebidas. Era difícil desviar das câmeras
atentas, mas não impossível. Isso nunca foi tentado, vai dar certo, pensou.
Collin
correu para frente do muro, e o ensopou
de bebidas com álcool, ele sabia que havia minas do outro lado do muro, para
aqueles que tentassem pular, apesar de serem bem altos, e ainda terem uma
grade. Ele escalou um pedaço do muro e cortou e por um pedaço da tela passou um
pedaço de pedra, ficou minutos até estar na posição perfeita. Soltou um fosforo
com a outra mão, e o chão ascendeu fogo a baixo dele, e com a mão atravessada a
grade soltou a pedra.
A pedra
atingiu a mina. A explosão atingiu a área explodindo uma pequena parte do muro
e arremessando Collin longe, bem no meio do pátio.
O fogo
ajudava a corroer o pedaço do muro arrancado. Collin ficou deitado no pátio em
meio aos pedaços do muro, o fogo queimava o concreto espalhando a fuligem
preta, gases eram liberados daquele chão rochoso, os estoques de carvão de
ficava perto do muro ajudou a chama se espalhar. O sinal de incêndio tocou, a
sirene de problemas perturbou a paz. A noticia do buraco se espalhou e todos
correram para a fuga, para o confronto no meio do pátio.
Atualmente.
- Você
vai ficar famoso cara – falou Joe dando um soco no ombro do amigo – O cara que
livrou os mutantes das garras da sociedade.
-Não
exagera Joe - Collin olhou para o circo
mais uma vez, tudo aquilo era muito impressionante – Acha mesmo que vão engolir
que somos essas paradas que você falou?
-É claro
que vão, e é a verdade, ou eu não sou superforte e você não prevê o futuro? Vai
ser fácil, e ainda vamos ter onde dormir, comer e ainda carona.
-Tem
razão, não vai ser tão difícil.
Realmente
não ia ser tão difícil. O circo estava sempre aberto a novos talentos, e
aqueles dois tinham uma pequena ajuda da genética para isso. A primeira semana foi um pouco cansativa, o
circo estava a caminho da cidade, barracas eram carregadas para o novo terreno,
e eles precisavam montar a lona, nessas horas até os palhaços viravam
ajudantes, isso não era grandes coisas para o fortão do Joe, mais Collin já
estava ficando cansado.
-Ei
garoto – falou um home barbado e barrigudo - Me ajuda a levantar isso aqui.
Joe foi
e sem esforço algum levantou a tora de madeira que estava sendo usada como
suporte para a grande tenda.
Continua...
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